Transportes Urbanos - São Paulo, Lisboa e Madrid



De alguns anos para cá, várias prefeituras brasileiras resolveram investir em novidades logísticas para o transporte de passageiros, considerando as mais variadas razões e objetivos. Compartilho um pequeno vídeo que fiz, destacando o funcionamento do transporte urbano em Lisboa e Madrid, muito mais avançado do que temos em qualquer cidade brasileira.

As decisões e implementações são realizadas com base em estudos técnicos, visão sistêmica, com foco no conforto do passageiro e eficiência do transporte.

Transporte de Passageiros em São Paulo:

Para podermos falar do tema e explicar as diferenças de gestão entre o que se faz no exterior e no Brasil, vamos iniciar falando especificamente das ações feitas nos últimos anos em São Paulo, onde a gestão atual tem dado um direcionamento controverso para o transporte coletivo e o individual.

Transporte Coletivo em São Paulo:

Para o transporte coletivo, a prioridade é incentivar o uso de ônibus, sendo o foco das ações na implementação de faixas e corredores em grande quantidade e por toda a cidade. As grandes questões sobre esta política estão concentradas basicamente:


No planejamento (ou falta de) na implementação, que não tem gerado o efeito desejado no aumento da quantidade de passageiros (nos últimos anos houve uma redução de 25% para 23% da população que usa este tipo de transporte), nem no aumento da velocidade média dos coletivos, uma vez que os pontos de entrada e saída das mesmas não são adequadamente planejados.
No tipo de modal a priorizar, uma vez que o coletivo movido a combustão, ainda que utilizando-se de biomassa ou outros tipos de combustíveis menos agressivos, é muito mais poluente que o Metrô e os Trens.
Na interferência com o transporte individual, principalmente carros particulares, causando aumento de congestionamentos e poluição atmosférica.

Incentivar a migração do transporte individual para o coletivo, em tese, é uma ação correta e que apoiamos, porém o planejamento é fundamental.

Na cidade de São Paulo, avaliamos que a implementação de ações para melhoria do transporte coletivo ainda é limitada, incompleta e necessita de melhor planejamento, considerando a visão global e integração de todos os modais existentes.

Faltam investimentos complementares que são fundamentais, como o no caso da estratégia escolhida, o aumento substancial da quantidade de coletivos em circulação e replanejamento de rotas.

Falta também, que prefeitura e governo estadual se conversem para melhorar a integração de modais. Atualmente, o investimento no Metrô e nas linhas suburbanas de trem, que deveriam ter a participação da prefeitura, são suportados quase que exclusivamente pelo governo estadual.

Transporte Individual em São Paulo:


A gestão atual não demonstra preocupação com a melhoria de qualidade transporte individual por automóveis como já descrito acima, não tendo investido em nenhuma ação importante, ignorando enorme quantidade de problemas causados no trânsito pela implementação de ações no transporte por ônibus.

Não houve e não há análise sistêmica e visão estratégica de modalidade, sendo as ações pontuadas caso a caso, sem estudos de impacto e reflexo no sistema global da cidade.

A única ação para o transporte individual, utilizada inclusive como propaganda, é a implantação das ciclovias. Porém, os problemas de planejamento na sua implementação são exatamente os mesmos que os das faixas de ônibus.

Já ficaram famosas e se tornaram até motivo de piada, as ciclovias que pela falta de planejamento e estudo prévio vivem sem ciclistas, além das que são construídas sobre calçadas, em aclives impossíveis, em terrenos sem o piso adequado entre outros. Para destacar este tipo de via, que também interfere no tráfego de automóveis, a prefeitura as pinta de vermelho, com gastos talvez desnecessários com tinta e materiais.

Transporte Urbano em Lisboa e Madrid:

Estive nas cidades de Lisboa e Madrid, aproveitando para observar e analisar a gestão do transporte urbano. Devemos destacar que ambas são cidades menores que São Paulo, porém ambas possuem malhas multimodais muito mais amplas e funcionais, sendo ao mesmo tempo, mais simples para o passageiro.

Em ambas as cidades, é absolutamente possível se deslocar com facilidade, conforto, rapidez e segurança para praticamente qualquer lugar, e neste cenário, de fato o automóvel deixa de ser necessário em muitos casos.

Lisboa:

A malha metroviária de Lisboa atende bem a região central da cidade, sendo 100% integrada com a malha de Trens de Subúrbio. A oferta é excelente e dificilmente se observam superlotações.

O transporte de menor distância é feito pelos Trams Elétricos, Bondes e Ônibus, que são chamados de Autocarros. Além disto, pela configuração geográfica da região, existe ainda o transporte Fluvial, através de Barcas, que também é 100% integrado ao sistema.

Madrid:

Possui uma das mais extensas malhas metroviárias do mundo, atendendo a todos os locais da cidade com elevada eficiência. Caracteriza-se por uma enorme quantidade de pequenas estações, todas dimensionadas para o fluxo local, cujos custos de construção e manutenção aparentam ser muito menores que no modelo utilizado em São Paulo, de poucas e grandes estações.

O sistema é complementado pelos Ônibus para o deslocamento em percursos locais e pontuais e Trens de Subúrbio, ambos também 100% integrados.

Faixas de Ônibus e Ciclovias:

Ambas as cidades, mas destacadamente Madrid, também possuem faixas de ônibus e ciclovias, porém estas são completamente integradas ao transporte de automóveis e sistema de Metrôs e Trens, convivendo pacifica e harmonicamente.

Em Madrid, quase não existem as chamadas "Faixas Exclusivas", uma das marcas da prefeitura de São Paulo, optando-se pelas Faixas Compartilhadas, principalmente entre Ônibus, Bikes e Taxis.

Além disto, Madrid possui um sistema de locação de bicicletas muito avançado e totalmente informatizado, permitindo que o cidadão possa com facilidade locar a bicicleta em um ponto da cidade e entregar em outro com grande facilidade.

Comentários

Postagens mais visitadas